domingo, 25 de maio de 2014

MODELOS DA COAGULAÇÃO SANGUÍNEA: CLÁSSICO X NOVO



Hemostasia é o processo fisiológico cujo principal objetivo é a manutenção da  integridade vascular e da fluidez do sangue após uma lesão vascular permitindo o equilíbrio do sistema circulatório. Esse processo compreende interações complexas entre os vasos sanguíneos, plaquetas, proteínas da coagulação e o sistema fibrinolítico, os quais levam à formação do coágulo sanguíneo e posterior dissolução do mesmo após o reparo da lesão vascular.1

Avanços no conceito de cascata da coagulação gerados por observações clínicas e experimentais demonstraram que o modelo da cascata clássica proposto na década de 60 não reflete completamente a hemostasia in vivo. O novo modelo da hemostasia, baseado em superfícies celulares, é capaz de explicar alguns aspectos clínicos do mecanismo hemostático que o modelo clássico da cascata não permite.2


·         Comparando os dois modelos de coagulação sanguínea


    Modelo clássico
 


Novo modelo proposto – Baseado em superfícies celulares

 


De acordo com o modelo convencional de coagulação sanguínea, tal processo ocorre por meio de ativação proteolítica sequencial de pró-enzimas por proteases do plasma. Essa proposta divide a coagulação em uma via extrínseca (envolvendo elementos do sangue e também elementos que usualmente não estão presentes no espaço intravascular) e uma via intrínseca (iniciada por componentes presentes no espaço intravascular), que convergem para uma via comum, a partir da qual, basicamente, ocorre ativação da protrombina em trombina e, essa, quebra a molécula de fibrinogênio em monômeros de fibrina, que constitui o coágulo estável.

Por outro lado, de acordo com o modelo novo, o processo de coagulação sanguínea é iniciado pela exposição do Fator Tecidual (FT) na corrente sanguínea. O entendimento atual do processo hemostático considera a ocorrência de quatro fases:

ü  Iniciação – O endotélio vascular e as células sanguíneas circulantes são perturbados; Interação do Fator VIIa derivado do plasma com o FT.

ü  Amplificação – Trombina ativa plaquetas, cofatores V e VIII, e fator XI na superfície das plaquetas.

ü  Propagação – Produção de grande quantidade de trombina, formação de um tampão estável no sítio da lesão e interrupção da perda sanguínea.

ü  Finalização – Processo da coagulação é limitado para evitar oclusão trombótica ao redor das áreas íntegras dos vasos.


·         Aplicação prática do novo modelo

Por enfatizar o papel central de superfícies celulares específicas no controle e direcionamento dos processos hemostáticos, a nova teoria da coagulação pode ser considerada um avanço na avaliação de grandes eventos clínicos ligados à hemostasia, o que inclui a interpretação dos testes da coagulação e dos mecanismos fisiopatológicos de seus distúrbios, tal como as hemofilias.
 
 
Referências:
1. Rodrigues, E. S.; Fernandes-Castilho, A.; Covas, D. T.; Fontes, A. M. Novos conceitos sobre a fisiologia da hemostasia. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 10, n. 1, p. 218-233, 2012.
2. Ferreira, C. N.; Sousa, M. O.; Dusse, L. M. S.; Carvalho, M. G. A cell-based model of coagulation and its implications. Rev. Bras. Hematol. Hemoter; 32 (5): 416-421, 2010.
 

 
 
 
 
 

sábado, 24 de maio de 2014

Síndrome metabólica, a ação da Lipase Sensível a Hormônio e resistência à insulina

            O metabolismo de lipídios está relacionado a fenômenos como o ganho ou a perda de peso, e é uma variável importante em casos clínicos de cardiopatias e diabetes. Em períodos de altos níveis glicêmicos a insulina atua estimulando a síntese de ácidos graxos, e inibindo a mobilização de gordura no tecido adiposo. Em contrapartida, em períodos de baixa oferta de carboidratos como fonte energética o tecido adiposo mobiliza ácidos graxos através da enzima Lipase Sensível a Hormônio (HSL).
Disponível em: http://www.endocardio.med.br/sindrome-metabolica/
           Todavia, existem casos onde indivíduos desenvolvem resistência à lipólise nos adipócitos - que se caracteriza pela diminuição da eficácia das catecolaminas (entre as mais conhecidas estão a Epinefrina e a Norepinefrina) -, além de um um grupo de distúrbios que inclui obesidade, resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão. Tais distúrbios são fatores de ricos para doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo II, e outras condições clínicas, como asma, distúrbios do sono e esteatose hepática. A esse quadro chamamos de síndrome metabólica. Os fatores de risco para essa síndrome são o sedentarismo, a própria obesidade, o envelhecimento, e a má alimentação (dieta excessiva de carboidratos).
            A literatura registra uma relação da resistência à lipólise à menor capacidade de ativação da Lipase Sensível a Hormônio via AMPc, por diminuição da sensibilidade à insulina, que se traduz na menor expressão de receptores β2-adrenérgicos. A menor capacidade de se realizar lipólise também se relaciona à maior intolerância à glicose. Dessa maneira, a dificuldade de mobilizar lipídios em adipócitos poderia contribuir para o aumento da massa adiposa, agravando o quadro de obesidade e reduzindo a sensibilidade à insulina.

Estudos mais recentes relacionam a maior taxa de lipólise em células adiposas de humanos como causa da maior resistência à insulina, e que a menor ação da enzima HSL, seja por inibição farmacológica, seja por modificação genética, resulta em melhora da sensibilidade à insulina em ratos. A partir desses dados pesquisadores têm suspeitado de que a inibição parcial da enzima HSL possa ser um tratamento plausível para a resistência à ação da insulina na síndrome metabólica. Mas estudos com indivíduos obesos demonstraram que defeitos na lipólise levam a menor perda de peso, o que é indesejável nesses casos. Dessa forma, a proposta de estimular a lipólise e a oxidação de ácidos graxos ainda é um tratamento a se considerar.

Portanto, a regulação do metabolismo de lipídios tem se destacado como uma ferramenta para o controle da sensibilidade à insulina relacionada à síndrome metabólica e à obesidade.


Referências:

1.Lehniger, A.L.; Princípios de Bioquímica 5ª ed 2011, p. 916 e 922.
2.Rennan de Oliveira Caminhotto, Amanda Baron Campaña, Fabio Bessa Lima. Inibição da lipólise como alvo terapêutico na síndrome metabólica. Arq Bras Endocrinol Metab vol.58 no.1 São Paulo Feb. 2014

3.Scott M. Grundy, A.L; Definition of Metabolic Syndrome: Report of the National Heart, Lung, and Blood Institute/American Heart Association Conference on Scientific Issues Related to Definition, 2004.

4.Wei Chen; Gerald S. Berenson; Síndrome metabólica: definição e prevalência em crianças, J. Pediatr. (Rio J.) vol.83 no.1 Porto Alegre Jan./Feb. 2007

Imagem de: 
http://www.endocardio.med.br/sindrome-metabolica/