sábado, 15 de fevereiro de 2014

O cortisol e a memória

        O estresse agudo promove a liberação de glicocorticoides, entre os quais se destaca o cortisol. Esses glicocorticoides atuam no hipotálamo e na hipófise promovendo retroalimentação negativa. Todavia, áreas do sistema límbico, principalmente o hipocampo, estão envolvidas na regulação dos glicocorticoides. As respostas moduladas pelo glicocorticoides são fundamentais para a sobrevivência, mas a exposição a concentrações elevadas por tempo prolongado pode levar a riscos à saúde, incluindo diabetes, hipertensão, hiperlipidemia, hipercolesterolemia, doença arterial, amenorreia, prejuízo no crescimento e reparo de tecidos, e imunossupressão.¹
          A disfunção hipocampal e a deficiência no aprendizado espacial em ratos envelhecidos estão relacionados com níveis elevados de glicocorticoides. Tal raciocínio pode ser estendido para humanos, já que a exposição prolongada a altas concentrações de cortisol causa redução do volume hipocampal e prejuízo de memórias dependentes do hipocampo em relação a indivíduos com níveis normais de cortisol.¹
         
         A imagem acima mostra o hipocampo reduzido de pessoas com aumento agudo de cortisol (à direta) e pessoas com leve declínio de cortisol ao longo do tempo (à esquerda). Note que a redução do hipocampo (representado pelas setas) é visível a olho nu.
         Idosos com doença de Alzheimer apresentam elevados níveis de cortisol em consequência do dano neural na inibição do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, via hipocampo. No entanto, o aumento do cortisol nesse caso não é o bastante para provocar alterações significativas na memória operacional.²


Referências:

1. Lupien, S. J.; de Leon, M.; de Santi, S.; Convit, A.; Tarshish, C.; Nair, N. P. V.; Thakur, M.; McEwen, B. S.; Hauger, R. L.; Meaney, M. J. Cortisol levels during human aging predict hippocampal atrophy and memory deficits. Nature Neuroscience, v. 1, p. 69-73, 1998.
2. de Souza-Talarico, J. N.; Caramelli, P.; Nitrini, R.; Chaves, E. C. Effect of cortisol levels on working memory performance in elderly subjects with Alzheimer’s disease. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 66(3b), p. 619-624, 2008.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Telômeros: o tamanho da vida

Figura 1. Estrutura do telômero. Fonte: Revista Ciência Hoje, 2009.

     Os telômeros são fragmentos de material genético presentes nas extremidades dos cromossomos de eucariotos.¹ Consistem em complexos proteicos e fita de DNA que não formam códons e possui centenas de milhares de sequências TTAGGG. Devido a característica de síntese unidirecional da DNA polimerase, a cada divisão mitótica o telômero diminui.² Dessa maneira a presença de telômeros curtos representa um tempo de vida menor, já que o tamanho dos telômeros está relacionado com o envelhecimento celular.¹
     Há uma enzima do tipo transcriptase reversa chamada telomerase que adiciona novas sequências TTAGGG na extremidade do telômero.² Assim, células telomerase negativas apresentam telômeros muito curtos.¹ Vários estudos realizados nos últimos vinte anos mostram a relação entre o tamanho dos telômeros e a manifestação de doenças e seus agravos.²
     O tamanho dos telômeros associado com a idade pode ser influenciado por fatores de envelhecimento e de morte prematura, como o estresse psicológico, o tabagismo, o prejuízo cognitivo e a obesidade.¹ Desse modo, o tamanho dos telômeros carrega uma informação condensada sobre nossos hábitos de vida e até quando iremos viver.

Referências
1.    Vera, B.; de Jesus, B. B.; Foronda, M.; Flores, J. M.;  Blasco, M. A. The rate of increase of short telomeres predicts longevity in mammals. Cell Reports, v. 2(4), p. 732-737, 2012.
2.    Bojesen, S. E. Telomeres and human health. Journal of Internal Medicine, v. 274(5), p. 399-413, 2013.