sábado, 21 de dezembro de 2013

Existe um fator genético para a obesidade?

O aumento contínuo nas taxas de incidência de pessoas com excesso de peso nas últimas décadas fez com que a obesidade atingisse proporções epidêmicas e se tornasse alvo de pesquisas. Hoje sabe-se que esta é uma doença multifatorial, mas que existem fatores intrínsecos que se correlacionam com o sistema endócrino.1,2,3
O tecido adiposo não é um tecido inerte, seu metabolismo é ativo e funciona como tecido endócrino produzindo adipocinas que levam a produção de leptina (LEP). A leptina é um hormônio peptídeo anorexígeno, considerado o eixo do complexo sistema de regulação do balanço energético do organismo. No contexto fisiológico de saciedade, a leptina alcança o cérebro e age nos receptores hipotalâmicos reduzindo o apetite e a síntese de lipídeo. Concomitantemente, a noradrenalina (hormônio do sistema nervoso autônomo) age nos adipócitos ativando β-oxidação e aumentando o número de termogenina na membrana mitocondrial interna, com o intuito de aumentar o gasto energético e gerar calor. Resumidamente, a regulação do peso corporal é esse efetivo contrabalanço entre ingestão energética e o seu gasto.1
Segundo pesquisas, o gene OB está relacionado com a produção adequada da leptina, sendo que a homozigose recessiva (ob/ob) desse gene leva a fenótipos com sobrepeso quando comparados a homozigose dominante (OB/OB). O gene, com três éxons e dois íntrons, localiza-se no cromossomo 7q31.3. Possui, na região promotora, sítios como TATA box e elementos responsivos a proteínas ligadoras ao amplificador CCAAT/enhancer binding protein(C/EBP), elemento responsivo a glicocorticóides (GRE) e elemento responsivo ao AMPc (CRE). A proteína tem 167 aminoácidos (16 KDa). Vários tecidos, além do adiposo, expressam LEP, como placenta, adeno-hipófise. Entretanto a maior ou menor produção da leptina está diretamente relacionada à massa de tecido adiposo, pois os seus níveis circulantes estão mais diretamente relacionados à quantidade de seu RNAm neste tecido. Além desse fator genético para o sobrepeso, pode ocorrer também em pessoas obesas uma maior resistência dos receptores de leptina (OB-R), o que leva a um maior acúmulo de lipídeo.2
Acredita-se que a leptina esteja até mais relacionada a um mecanismo de proteção contra a adipotoxicidade provocada pelo excesso de triacilgliceróis no citosol em células que não são adipócitos. Células com excesso de gordura intracelular podem sofrer apoptose e há evidências experimentais que relacionam certas formas de diabetes mellitus com o aumento do conteúdo intracelular de lipídeos.4
Por mais que a síntese de leptina seja um fator importante para a regulação do peso corporal há também outros fatores que interferem na obesidade como as mudanças do perfil de atividade física da população e disseminação de atividades sedentárias, devido à modernização dos processos produtivos e o maior acesso à tecnologia.3,4

Referências
1  Nelson, D.L. ; Cox, M.M.; Princípios de Bioquímica de Lehninger, terceira edição, 2002.
2 Alaniz, M.H.F.; et al;, O tecido adiposo como órgão endócrino: da teoria à prática, J. Pediatr. (Rio J.) vol.83 no.5 suppl.0 Porto Alegre Nov. 2007.
3 Sartorelli, D.S; Franco, J.F.; Tendências do diabetes mellitus no Brasil: o papel da transição nutricional; Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(Sup. 1):S29-S36, 2003.
4 Júnior, J.D. ; Pedrosa, R.G.; Tirapegui, J.; Aspectos atuais da regulação do peso corporal: ação da leptina no desequilíbrio energético, Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences, vol. 40, n. 3, jul./set., 2004.

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