sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Intolerância à lactose e o baixo consumo de cálcio

O leite é uma excelente fonte de proteína animal e o constituinte dietético mais adequado como fonte de cálcio. Entretanto, a capacidade de digerir a lactose¹, um dissaca­rídeo formado por glicose e galactose², contida no leite depende da presença e da atividade da enzima lactase, cuja atividade diminui com o passar dos anos devido a uma redução na sua quantidade no intestino, ocasionando a má-absorção da lactose¹.

Quando ocorre a falta da enzima lactase, a lactose, que é uma boa fonte de energia para os microorganismos do cólon, é fermentada a ácido láctico, metano (CH4) e gás hidrogênio (H2). O gás produzido cria uma sensação de desconforto por distensão intestinal e pelo incômodo problema de flatulên­cia. O ácido láctico produzido pelos microorganismos é osmoticamente ativo e puxa água para o intestino, assim como a lactose não digerida, resultando em diarréia. Indivíduos com estes distúrbios são considerados intolerantes à lactose, cons­tituindo o problema mais comum da digestão dos carboidra­tos².

A presença dessas reações pode levar a um menor consumo de leite e de derivados e, consequentemente, a uma ingestão insuficiente de cálcio. As diferenças no consumo de cálcio entre indivíduos com intolerância à lactose (IL) e grupos-controle relatados na literatura são de aproximadamente 285 mg/dia a 400 mg/dia. Isso predispõe os portadores de IL a maiores riscos para o desenvolvimento da osteoporose. Quando a absorção de cálcio pela dieta é insuficiente para repor as perdas diárias, o cálcio é retirado dos ossos, contribuindo para um balanço negativo no equilíbrio da remodelação óssea¹.

O tratamento para indivíduos com IL consiste basicamente da não ingestão de produtos lácteos na dieta, o que se torna um problema, pois esses alimentos são fontes primárias de cálcio, e, considerando que o corpo perde quantidades consideráveis desse mineral diariamente, torna-se necessário um suprimento constante de cálcio biodisponível para garantir a densidade mineral óssea¹.

Dessa forma, se dietas sem lactose são utilizadas no tratamento da intolerância à lactose, torna-se de fundamental importância que sejam incluídos nas dietas destes indivídu­os uma boa fonte de cálcio e/ou suplementação de cálcio para atender os níveis de ingestão diária recomendada. Nos adolescentes e adultos jovens geralmente se recomenda cálcio na dieta de 1200 a 1500mg por dia. Já nos adultos a quantia diária varia de acordo com o sexo e presença de menopausa.³ Na tabela seguinte, estão listados alguns alimentos ricos em cálcio, considerando-se uma dieta sem leite e seus derivados².

Níveis de cálcio (mg) em alguns alimentos


Diante da relação estabelecida entre a intolerância à lactose e o baixo consumo de cálcio, não se pode deixar de destacar qual a importância desse nutriente para os seres humanos: é responsável pela constituição dos ossos e dentes, além de ser fundamental para a manutenção de várias funções do or­ganismo, como a contração muscular, coagulação do sangue, transmissão de impulsos nervosos e secreção de hormônios. Portanto, é necessário que os níveis sanguíneos deste mineral se mantenham em patamares seguros e específicos, para reali­zar suas funções².

Referências:

1. SALOMAO, N. A. et al. Ingestão de cálcio e densidade mineral óssea em mulheres        adultas intolerantes à lactose. Rev. Nutr., Campinas, 25(5):587-595, set./out., 2012.
2. BARBOSA, C. R.; ANDREAZZI, M. A. Intolerância à Lactose e Suas Consequências no Metabolismo do Cálcio. Revista Saúde e Pesquisa, v. 4, n. 1, p. 81-86, jan./abr. 2011.
3. MATTAR, R.; MAZO, D. F. C. Intolerância à lactose: mudança de paradigmas com a       biologia molecular. Rev. Assoc. Med. Bras., 56(2): 230-6; 2010.



segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Interleucina-6 como marcador biológico para diagnóstico de tuberculose pulmonar

               Citocinas são polipeptídios ou glicoproteínas extracelulares, hidrossolúveis, que são produzidas por diversos tipos de células em eventos inflamatórios e imunológicos. As citocinas pró-inflamatórias são denominadas interleucinas, secretadas por macrófagos, monócitos, eosinófilos, hepatócitos entre outras células, sendo importantes mediadores da síntese e liberação de proteínas de fase aguda pelos hepatócitos durante traumas, infecções ou queimaduras (Oliveira, 2011). O estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará publicado no Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial revela o potencial para se utilizar a interleucinas-6 como marcador biológico para o diagnóstico de tuberculose pulmonar.
              Aparentemente existem vários estudos sobre a imunopatogênese da tuberculose em sua forma ativa, porém há poucas investigações obre a forma latente da tuberculose, que é assintomática, não transmissível, e carece de métodos eficazes e precisos para identifica-la. Os métodos atuais de diagnóstico se baseiam no teste positivo de tuberculina ou análise de liberação de interferon-gamma, que apenas indicam sensibilização devido a maior exposição ao bacilo de Koch (M. tuberculosis).

             Por outro lado, aos olhos dos pesquisadores o estudo dos níveis séricos de interleucina-6 (IL-6) pareceu promissor para um diagnóstico mais preciso da tuberculose em latência, uma vez que essa proteína desempenha m papel relevante na imunopatogênese da tuberculose, participando da ativação de macrófagos. Dessa forma os cientistas decidiram determinar os níveis de IL-6 em pacientes com tuberculose pulmonar ativa e compará-los a indivíduos expostos e indivíduos não expostos ao M. tuberculosis).
             Os resultados demonstraram que indivíduos expostos à tuberculose pulmonar ativa apresentaram níveis séricos de IL-6 significativamente aumentados (3,4 vezes maiores) em relação aos indivíduos não expostos, mas em uma proporção menor (2,5 vezes menor) quando comparado com indivíduos acometidos pela doença ativa. Dessa forma é possível apontar a viabilidade do uso da interleucinas-6 no diagnóstico de tuberculose pulmonar latente, mas estudos futuros ainda são necessários para confirmar estes dados e sua aplicação clínica.

Referências Bibliográficas:

1.LOPES, Fernando Henrique Azevedo et al. Serum levels of interleukin-6 in contacts of active pulmonary tuberculosis. J. Bras. Patol. Med. Lab., Rio de Janeiro, v.49, n. 6, Dec. 2013.

2. OLIVEIRA, Caio Marcio Barros de et de al. Citocinas e dor. Rev. Bras. Anestesiol., Campinas, v.61, n. 2, Apr. 2011.