terça-feira, 1 de julho de 2014

Creatina quinase como sinalizadora da lesão muscular em atletas de futebol


A Creatina é um nutriente natural encontrado em carne animal, é considerado um efetivo nutriente ergogênico e a suplementação da creatina melhora o desempenho físico humano. Uma vez dentro da célula, a creatina é fosforilada a fosfocreatina durante o repouso pela enzima creatina quinase (CK). Essa enzima possui funções de extrema importância como: criar um reservatório energético prontamente disponível; prevenir um aumento do ADP livre intracelular; criar um reservatório de prótons, permitir sinalização para início da glicogenólise no exercício, entre outros. ¹

As concentrações plasmáticas de creatina quinase (CK), uma enzima que se localiza no interior do “músculo”², têm sido utilizadas como um indicador do estresse imposto à musculatura esquelética,decorrente de contrações excêntricas em diferentes modalidades esportivas, como o futebol, e também como um fator de monitoramento da carga de treinamento. Quanto mais intenso e duradouro for o exercício, maior é a quantidade de micro traumas musculares que permitem o extravasamento desta enzima para o meio extracelular.³ Sendo assim, a CK pode atuar como sinalizadora de lesão muscular ao ser detectada no sangue.²

 
Lazarim e colaboradores (2009) trouxeram dados inovadores para a literatura do futebol, indicando que níveis plasmáticos acima de 975  U/L da enzima creatina quinase (CK) poderiam indicar um quadro severo de alteração muscular e, consequentemente, um indício de que o atleta estaria em possível quadro de instalação do overtraining (síndrome do supertreinamento).²

Uma hipótese que pretende explicar a lesão muscular induzida pelo exercício físico sugere que a perda de integridade da estrutura da membrana celular deve-se, sobretudo, a um estresse metabólico, consequência de um ataque de espécies reativas de oxigênio ao sarcolema, ocasionando um processo de lesão oxidativa na membrana. Dessa forma, a liberação de proteínas musculares, tais como a CK, é tida como uma evidência de dano muscular, pois normalmente esta enzima é incapaz de atravessar membranas celulares. Considera-se, portanto, que a liberação de CK, via vasos linfáticos, refletiria alterações importantes ocorridas na estrutura das membranas, tornando-as mais permeáveis a grandes moléculas tais como as proteínas. ² Tal situação é demonstrada na figura a seguir (Figura 01).


 
Figura 01: Caracterização dos meios intracelular e extracelular de uma fibra muscular. A: estrutura de membrana estável e níveis intracelulares de CK elevados (baixa concentração extracelular); B: estrutura de membrana com aumento de permeabilidade da dupla camada lipídica e fragmentação de proteínas (alta concentração de CK extracelular, com remoção para a corrente sanguínea)².

 
 
Para exemplificar a variação dos níveis de CK no sangue de futebolistas pré e pós-jogos, pode-se observar o gráfico seguinte (figura 02), retirado de um artigo que trata da avaliação sérica de danos musculares e oxidativos em atletas após partida de futsal³ Nele, fica evidente que há um aumento significativo nos níveis de CK imediatamente após o término dos jogos 1 e 2, quando comparados aos valores pré-jogo.4
Figura 02: Avaliação de dano muscular.




Diante dessas considerações, verifica-se a grande relevância da detecção dos níveis de CK no sangue, uma vez que permite compreender o estágio de estresse de cada jogador em relação a ele mesmo e a toda a equipe. Assim, o preparador físico, de posse destes resultados, pode individualizar as cargas de treinamento e otimizar a recuperação de eventuais processos de lesões musculares.²
 
 
 
Referências:
 
 
  1. JÚNIOR, M. P.; MORAES, A. J.; ORNELLAS, F. H.; GONÇALVES, M. A.; LIBERALI, R.; NAVARRO,F. Eficiência da suplementação de creatina no desempenho físico humano. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo, v.6, n.32, p.90-97. Mar/Abr. 2012. ISSN 1981-9900.
2.      NETO, J. M. F. A.; NADER, B. B.; DONADON, C. C.; MACEDO, D. V.Biomarcadores de estresse no futebol: dosagem sanguínea dos níveis de creatina quinase.Revista Brasileira de Futsal e Futebol, São Paulo, v.4, n.12, p.87-97. Maio/Jun/Jul/Ago. 2012. ISSN 1984-4956.
 
3.      COELHO, D. B.; MORANDI, R. F.; MELO, M. A. A.; SILAMI-GARCIA, E. Creatinekinasekinetics in professional soccer players during a competitiveseason.RevBrasCineantropom Desempenho Hum 2011, 13(3):189-194.
 
 
4.      SOUZA, C. T.;MEDEIROS, C.; SILVA, L. A.; SILVEIRA, T. C.; SILVEIRA, P. C.; PINHO, C. A.; SCHEFFER, D. L.; PINHO, R. A.Serummeasurementofmuscleandoxidativedamage in soccer players after a game. Ver BrasCineantropom Desempenho Hum 2010, 12(4):269-274.